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A outra questão – bem mais embaraçosa e que, aliás, não deixou de ser colocada por outras críticas feministas – consiste em saber se é preciso admitir, seguindo Freud, que o fetichismo está reservado às mulheres. A presença dos acessórios da feminilidade “sexy” e da figura da dominadora/“puta” na fotografia de Annie Sprinkle merece, pois, que nos detenhamos e encontremos meios de analisá-la. Essa imagem fala tanto de classe quanto de sexo. A qual construção (vitoriana) da sexualidade e da classe e, portanto, da divisão entre as mulheres, remete justamente a suposta “vulgaridade” desse tipo de representação da mulher/puta (sabemos que a fronteira é tênue)? Quem amarrou as botas? Seria essa imagem necessariamente repulsiva para as mulheres, que jamais poderiam se identificar com ela? Ela funciona somente para um olhar masculino? Está sujeita ao Aos fantasmas dos business men que saem de reuniões por eles presididas e entram em sessões S/M em que são pisoteados por dominadoras com saltos agulha? Estamos simplesmente diante de um ícone da dominação masculina? A simples presença do espartilho, símbolo do adestramento estético e corporal das mulheres denunciado pelas feministas de primeira hora, seria necessariamente patriarcal? Aqui, as análises feministas se devoram entre si, uma mostra as insuficiências da outra e produz releituras permanentes, não apenas das imagens analisadas, mas também, e talvez sobretudo, das noções e das ferramentas, sejam ou não dedicadas à análise das imagens. Essa mobilidade metodológica pode ser explicada pelo objetivo primeiro dos estudos feministas e culturalistas: partir dos saberes situados e da crítica in fine de um sujeito social e erudito que nega a diversidade das culturas, dos pontos de vista e sua dimensão política, para chegar ao feminismo de um sujeito feminino que nega as diferenças entre as mulheres (de classe, de status e de sexualidade). A crítica feminista e a crítica culturalista atuais estão voltadas ao decentramento permanente do sujeito e dos objetos de análise, a uma infidelidade real com relação às disciplinas tradicionais, talvez mesmo às técnicas uniformes de análise da imagem. Alguns conseguiram ver nessas abordagens uma hesitação científica, ao passo que outros se aproveitam disso, que é uma forma de honestidade epistemopolítica. 4 Mensagem enviada por Jean-Paul Carminati ao periódico 15 a 16 de julho de 2000. 8 Teresa De Lauretis, Technologies of Gender, Essays on Theory, Film and Bloomington e Indianapolis, Indiana University Press, 1987. 12 Figura da cena pró-sexo lésbica estadunidense e atriz expoente da sex war que se desenrolou nos Estados Unidos nos anos 1980-1990, Nan Kinney é a fundadora do selo pornô lésbico Fatale Video, com Deborah Sundhal.

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